quinta-feira, 13 de maio de 2021

A escravidão realmente acabou?

 

Descrição da imagem #ParaTodesVerem - sob fundo preto, contorno branco circulando: "A escravidão realmente acabou? 133 anos após a Lei Áurea", escrito em letras brancas. Abaixo, a direita, "@guerreirosdainclusao"

No dia 13 de maio de 1888, uma mulher branca, europeia, protagonizaria a história da luta negra no Brasil. Por muito tempo a história nos ensinou que a Princesa Isabel acabou com a escravidão. Mas será que acabou mesmo? Passaram-se 133 anos da Lei Áurea, e ainda convivemos com práticas e condições de trabalho que vão contra a dignidade humana.

Essas práticas assumem diversas formas, como a servidão por dívidas, o alojamento em ambiente em condições degradantes, o confinamento no espaço de trabalho e proibição de livre deslocamento, o castigo físico, entre outras práticas desumanas.

Segundo o Ministério da Economia, entre 1995 e 2020, no Brasil, mais de 55 mil pessoas foram libertadas de condições de trabalho análogas à escravidão. São, em sua maioria, migrantes principalmente do Norte e Nordeste do país, ou imigrantes e refugiados que deixaram suas casas em busca de novas oportunidades e são absorvidos pela construção civil, indústria têxtil e monoculturas como a cana-de-açúcar.

O ano de 2020 e a pandemia do Covid-19 agravaram ainda mais as desigualdades e violações, principalmente com relação aos imigrantes ilegais e refugiados. A começar pela própria doença, pois ainda não existem dados precisos do quanto esse grupo foi afetado pelo vírus, uma vez que a nacionalidade não é um dos itens obrigatórios de preenchimento da declaração de óbito e do documento de autorização de internação hospitalar.

A situação foi denunciada por médicos e especialistas, pois impedia que os estrangeiros fossem incluídos nos planos nacionais de resposta a emergências da covid-19 no Brasil. Em maio de 2020 foi feita a inclusão da população migrante nos planos de prevenção e enfrentamento à doença por uma recomendação do Relator Especial sobre os Direitos Humanos dos Migrantes da ONU.

Em outubro surgiram as primeiras respostas. A partir de dados sobre Mortalidade, o Ministério da Saúde chegou a 2950 notificações de infecções pela covid-19 em estrangeiros até o final de julho de 2020.

Uma outra questão precisa ser evidenciada: em outubro, um levantamento organizado pela Repórter Brasil, a partir dos registros de fiscalizações do Ministério da Economia, revelou que 93,1% das mulheres resgatadas de situações de trabalho análogo à escravidão na capital paulista são imigrantes.

A pandemia confinou as famílias ainda mais nas oficinas, trabalhando por mais de 14h por dia e recebendo menos que um salário-mínimo. Uma investigação da Folha de São Paulo mostrou que costureiras imigrantes estavam recebendo até R$0,05 por máscara confeccionada.

Se o trabalho em condições análogas à escravidão era comum antes da pandemia, a queda da economia e a demanda intensiva de produção de proteção, como as máscaras, aumentou ainda mais a já precarizada massa de trabalhadores imigrantes, com consequências ainda mais graves para os que estão em situação ilegal.

O Disque 100 é um serviço que deve ser acionado caso se tenha conhecimento ou seja vítima de trabalho em condições análogas à de escravidão. É mantido pelo Governo Federal e que recebe, analisa e encaminha denúncias de violações de direitos humanos aos órgãos de proteção. Funciona diariamente, 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. A ligação é gratuita e pode ser feita de qualquer telefone, fixo ou móvel.

Além de denunciar os casos, é necessária ir além sobre a situação dos migrantes no Brasil. Inclusive os que se encontram no país em condições ilegais e os refugiados, situações de vulnerabilidade extrema. Segundo a OIT Brasília, as trabalhadoras e os trabalhadores libertados, em sua maioria, deixaram suas casas para regiões de expansão agropecuária ou para grandes centros urbanos, em busca de oportunidades ou atraídos por falsas promessas. Retirá-los da situação de escravidão, mas sem estruturar ações inclusivas e que contribuam para o seu recomeço é enfrentar apenas parte do problema.

Fontes: HypenessBrasil de fatoILO

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