sábado, 21 de setembro de 2024

Hoje é o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. Você sabe porque, como e quando essa data surgiu?

 Hoje, 21 de setembro, é o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. Esta data é comemorada desde 1982 por iniciativa dos próprios movimentos sociais de pessoas com deficiência, que ano após ano foram realizando articulações para que a data entrasse no calendário oficial de datas comemorativas do país.

Em 2005 finalmente houve êxito e foi sancionada a Lei Federal n.º 11.133. Nessa época, o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade) e o órgão máximo de governo que naquela época tratava dos direitos da pessoa com deficiência, a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência (Corde), eram integrantes da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (agora integram o Ministério dos Direitos Humanos). E ambos articularam diretamente nas mobilizações, conversas e articulações junto aos parlamentares para aprovação do projeto de lei.

A coordenadora nacional (Corde) era a Dra. Izabel Maior, médica e docente da UFRJ, ainda hoje nossa grande referência nacional e internacional sobre direitos das pessoas com deficiência.

O Presidente da República do período era Lula. E quem sancionou (assinou) a lei em 14 de julho foi o Vice-Presidente José de Alencar (falecido em 2011), juntamente com a presidenta Dilma, que na época era Ministra da Casa Civil.

O projeto de lei foi de autoria do Senador Paulo Paim. E teve como relator o Deputado Eduardo Barbosa, ambos parlamentares envolvidos na temática deficiência e referências no Congresso Nacional para o segmento.

O presidente do Conade era Adilson Ventura, pedagogo e historiador, falecido em 2010. Ele foi presidente do Conade por dois mandatos, bem como realizou a 1ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Independente de ideologia política, é importante recordar, reverenciar e reconhecer a participação e empenho de cada uma dessas pessoas envolvidas com a criação desta data comemorativa.

Pela passagem da data, compartilho postagem de outra grande referência na temática, a socióloga Marta Almeida Gil.  É só clicar em seu nome aqui no texto e será direcionado para a sua postagem no linkedin.

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#recordaréviver

sexta-feira, 26 de julho de 2024

A força de trabalho da mulher negra e com deficiência no contexto do trabalho doméstico em condições indignas, análogas à de escravo

Descrição da Imagem #pratodesverem: sob fundo amarelo ocre, 
ilustração da figura de Tereza de Benguela, mulher negra, 
cabelos pretos amarrados e ombros a mostra. Ela usa brincos pequenos de cor dourada.  



 Êmilly Oliveira [1]
Joelson Dias [2]
Marta Gil [3]
Rita Mendonça [4]

O Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha (25 de julho) foi criado no I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas em Santo Domingo, em 1992, para fortalecer a união entre as mulheres negras contra o machismo, o racismo, para estimular a reflexão sobre os marcadores de gênero e raça e propor estratégias contra o racismo e todas as formas de discriminação.

No Brasil, a data foi oficializada pela Lei n.º 12.987 como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza liderou o Quilombo Quariterê, um espaço de resistência que foi arrasado pelos bandeirantes em 1770. Ela é uma referência na luta contra a escravidão e um símbolo de resistência para as mulheres negras de todo o país.

Neste 25 de julho de 2024 a Rede de Direitos Humanos (RDH) reflete sobre a condição das mulheres negras no Brasil e sobre a necessidade de se posicionar firmemente sobre a condição da mulher negra com deficiência e sua força de trabalho doméstico em condições análogas às de escravo.

A escravidão do povo africano no Brasil

É importante fazer uma breve retrospectiva histórica sobre o papel do marcador racial como elemento estruturante da sociedade brasileira.

O Brasil detém o triste recorde de ter recebido o maior número de africanos fora da África: foram mais de 4 milhões de pessoas traficadas e escravizadas. O primeiro navio negreiro chegou em 1535, iniciando quase quatro séculos de exploração escravista: nosso país foi um dos últimos a abolir essa prática.  Nesse período foram comprometidos os direitos e a dignidade de cerca de 25 gerações, deixando uma marca profunda e duradoura na história do país.

Por outro lado, é crucial reconhecer as contribuições das mulheres negras, que moldaram diversos aspectos da vida brasileira e cujas experiências continuam a influenciar tradições e costumes. As demandas por direitos da população negra, especialmente das mulheres negras resultaram em conquistas consagradas na legislação brasileira e fortaleceram ações e políticas afirmativas.

Mulheres negras são agentes de resistência, responsáveis pela preservação das culturas e tradições africanas, pela transmissão de conhecimentos ancestrais, pela prática de religiões de matriz africana e manutenção de laços comunitários, essenciais para a resistência coletiva. Fortaleceram as relações sociais intergeracionais, o uso sustentável do meio ambiente e o acesso às tecnologias ancestrais a bem da comunidade.

A escravidão contemporânea no Brasil

O tráfico de pessoas ocupa o terceiro lugar entre as atividades mais lucrativas; está presente em praticamente todos os países; meninas e mulheres têm maior probabilidade de exploração sexual, casamentos forçados e condições indignas no trabalho doméstico. Estas práticas aumentam em momentos de crises globais, conflitos armados e eventos climáticos extremos.

No Brasil, o combate ao trabalho escravo contemporâneo é coordenado pela Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que mantém a Lista Suja do Trabalho Escravo, com nomes de empregadores que submetem trabalhadores a condições degradantes.

Identificar situações análogas à escravidão no contexto do trabalho doméstico é complexo e delicado: depende de denúncias anônimas para que equipes especializadas possam resgatar as pessoas, principalmente as mais exploradas: as meninas negras.

O trabalho doméstico no Brasil

O reconhecimento legal do trabalho doméstico como ocupação profissional no Brasil ocorreu apenas no final da década de 1970. É nesse setor da economia que se encontram os menores salários, a menor escolaridade e onde a informalidade é mais comum, negando direitos e obrigações trabalhistas, como contribuição previdenciária, desemprego, licença médica e aposentadoria.

Trabalho Infantil doméstico e o ciclo da pobreza no país

Embora proibido pela Constituição Federal, o trabalho infantil é uma triste realidade que perpetua o ciclo da pobreza. Crianças, especialmente meninas, são frequentemente envolvidas em atividades domésticas desde tenra idade, privando-as de oportunidades educacionais e de um futuro promissor.

Elas não frequentam a escola regularmente, o que compromete seu aprendizado, suas chances de ascensão social e profissional e mantém o ciclo de pobreza. Sem acesso adequado à educação formal, têm dificuldades para adquirir habilidades e conhecimentos necessários para competir no mercado de trabalho moderno. Como resultado, são frequentemente limitadas a empregos informais, braçais e mal remunerados, perpetuando a condição de pobreza e marginalização social.

O trabalho infantil doméstico também expõe as crianças a condições de trabalho perigosas e abusivas, comprometendo sua saúde física, mental e emocional. Essas experiências precoces de exploração e desigualdade deixam cicatrizes profundas que podem afetar seu bem-estar ao longo da vida. Assim, erradicar o trabalho infantil doméstico é crucial para interromper o ciclo da pobreza e para assegurar um futuro mais justo e digno para as próximas gerações.

Meninas pobres, especialmente negras, estão frequentemente envolvidas no trabalho doméstico, onde o ambiente propicia a exploração e está associado a maus-tratos, violência física, psicológica e sexual, além de expô-las a riscos físicos por realizarem atividades inadequadas para sua idade e constituição corporal.

Em troca de alimentação e alojamento, mesmo que em condições precárias de ventilação, espaço mínimo e confinado, camas improvisadas e iluminação insuficiente, elas se tornam ainda mais vulneráveis.

A falta de fiscalização e proteção efetiva nas residências, protegidas pela Constituição como espaços da vida privada, dificulta ainda mais a garantia de direitos fundamentais para as trabalhadoras.

A dependência financeira dos empregadores quanto à moradia e o temor por sua integridade física, mental e moral frequentemente levam essas meninas e mulheres a silenciarem sobre violações dos seus direitos mais básicos.

A força de trabalho das pessoas com deficiência

Pessoas com deficiência podem realizar trabalho remunerado em qualquer ambiente, inclusive o doméstico, desde que suas habilidades e necessidades sejam respeitadas, com acesso garantido a tecnologias assistivas e adaptações conforme sua necessidade. Essas garantias constam da Constituição Federal e de tratados internacionais ratificados pelo Brasil.

Porém, essas garantias são desafiadas pelo capacitismo, que perpetua a discriminação e o preconceito contra pessoas com deficiência e dificulta sua inclusão social e profissional, mesmo com políticas afirmativas como a "lei de cotas" (art. 93 da Lei n.º 8.213/91), que visa promover a inclusão no mercado de trabalho formal.

A falta de reconhecimento das habilidades e potencialidades desses indivíduos agrava sua vulnerabilidade, limitando o seu acesso a serviços básicos, com poucas exigências, baixa remuneração e dificultando o reconhecimento e o exercício de seus direitos trabalhistas.

É premente a necessidade de enfrentar o capacitismo e promover um ambiente de trabalho inclusivo, que valorize a contribuição e a participação das pessoas com deficiência em condições de igualdade.

Mulheres negras com deficiência e trabalho doméstico em condições análogas às de escravo

Essa realidade está mais próxima do que se gostaria de admitir: é comum ouvir histórias de famílias em situação de vulnerabilidade social que aceitam a oferta de enviar suas filhas, muitas vezes meninas, para trabalhar em lares de famílias mais abastadas. Sob a promessa de serem acolhidas como membros da família essas jovens esperam se desenvolver, mas muitas vezes são exploradas e privadas de seus direitos mais básicos.

Recentemente a sociedade brasileira foi confrontada por uma notícia alarmante: uma mulher negra com deficiência foi resgatada pelo MTE, Polícia Federal e outros órgãos públicos.

Ela começou a trabalhar nessas condições antes dos 10 anos de idade e, agora com 50 anos de idade. não teve acesso à educação formal, à alfabetização em Libras (língua brasileira de sinais) e nem a atendimento médico ou odontológico. Devido à sua surdez, a comunicação limita-se a gestos rudimentares.

Muito ainda a avançar

A 5ª Conferência Nacional da Pessoa com Deficiência, realizada entre os dias 14 e 17 de julho de 2024 assinalou a retomada da participação social nas discussões sobre avanços nas políticas públicas voltadas para esse segmento da população brasileira.

Representantes de organizações da sociedade civil, autoridades governamentais, especialistas e pessoas com deficiência refletiram sobre desafios e conquistas. Foram abordados temas como acessibilidade, inclusão social, mercado de trabalho, saúde, educação e direitos humanos, destacando-se a necessidade de fortalecer a implementação de políticas inclusivas e assegurar o pleno exercício dos direitos das pessoas com deficiência em todas as esferas da sociedade.

Foram discutidas propostas para ampliar o acesso a serviços e programas que promovam a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento integral das pessoas com deficiência e estratégias para superar obstáculos persistentes, como o capacitismo e a falta de acessibilidade. A participação ativa dos próprios indivíduos com deficiência é fundamental para avaliar conquistas, identificar novas prioridades e definir diretrizes que possam orientar futuras políticas públicas, visando assegurar uma sociedade mais inclusiva e respeitosa com a diversidade e a inclusão.

A luta pelo fim da condição de trabalho análogo à escravidão permanece como um desafio a ser encarado em um futuro que esperamos seja próximo.

[1] Êmilly Oliveira é advogada do Escritório Barbosa e Dias (B&D), membra da Rede de Direitos Humanos (RDH).
[2] Joelson Dias é advogado, sócio fundador do IDECON, já foi presidente da Comissão Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB) e Ministro Substituto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).  É membro fundador da Rede de Direitos Humanos (RDH).
[3] Marta Gil é socióloga, fundadora e coordenadora executiva do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas; empreendedora social reconhecida pela Ashoka Empreendedores Sociais e fundadora da Rede de Direitos Humanos (RDH).
[4] Rita Mendonça é advogada de Direitos Humanos, presidenta do Instituto Guerreiros da Inclusão (IGI) e membra fundadora da Rede de Direitos Humanos (RDH).

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Diretor de relacionamento institucional do IGI assume a vice-presidência do CECD/LGBT/AL


O Instituto Guerreiros da Inclusão (IGI) nasceu da luta das próprias pessoas LGBTQIAP+ por direitos. E por esta razão sempre teve protagonismo nas instâncias de participação e controle social.

Integrante da atual gestão do Conselho Estadual LGBT em Alagoas, neste mês de junho de 2024 foi eleito para a nova mesa diretora do Conselho Estadual de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – CECD/LGBT que será responsável pela gestão da pauta em Alagoas pelo próximo ano. 

Juntamente com Messias Mendonça (na presidência) e Isaac Victor (na secretaria geral), o diretor de relacionamento institucional do IGI, Igo Nascimento, assume a vice-presidência do CECD/LGBT/AL

Para assegurar a lisura do certame, a eleição foi acompanhado pelo promotor de justiça em Alagoas, Jamyl Barbosa.

#Semudh #GovernoDeAlagoas #Alagoas #LGBTQIA+ #diversidade #ConselhoDeDireitos #MovimentoSocial

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Você sabe como são feitas as leis no Brasil?

 O Projeto de Lei (PL) n.º 4.768/23 obriga os municípios a disponibilizarem informações sobre desastres. Ele foi aprovado ontem, 9, na Comissão de Integração Nacional e Desenvolvimento Regional da Câmara dos Deputados. O PL tem parecer favorável de seu relator e possui caráter conclusivo, seguindo para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Sendo aprovado, mudará a Lei n.º 12.608/12, que institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC).

Pelo PL, as informações deverão incluir causas, óbitos, pessoas afetadas ou desabrigadas, áreas atingidas, respostas adotadas, equipes mobilizadas, assistência prestada e informações sobre serviços essenciais.

Você sabe o que acontece a partir de agora?

Vamos lá, para algumas dicas 'orgânicas' sobre processo legislativo na Câmara? Sem 'rigor jurídico', tá? Elas facilitarão o entendimento do funcionamento da Casa.

A Câmara possui normas e regimentos internos, estabelecendo o que chamamos de processo legislativo, que são as regras de como as leis devem ser feitas. O que mencionarmos para a Câmara se aplica também para o Senado, todas Assembleias Legislativas dos Estados e do Distrito Federal, bem como as Câmaras de Vereadores dos Município, tá?

O da Câmara estabelece que alguns temas menos polêmicos, se caminharem sem oposição e nem grandes divergências dos parlamentares em suas comissões, não precisarão ir ao Plenário para serem votados por todos os deputados e deputadas. Significa que passando só pelas comissões que tem a ver com a temática do projeto, e sendo aprovado 'de boa' até o final, já saem de lá concluídos e prontos para serem transformadas em lei, indo para a sanção do Presidente da República.

Sabe aquela confusão de deputados no Plenário Ulisses Guimarães que a gente vê pela TV? Significa que nesse caso isso não vai acontecer. Apenas as reuniões menores ocorridas nas comissões serão suficientes para que vire lei.

É isso o que está acontecendo com o PL n.º 4.768/23. Ele vem tramitando nas comissões desde o ano passado e agora só falta passar pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara.

E aí você pensa: depois disso já vai para a sanção do Presidente? E a resposta é 'depende', porque temos que verificar se há necessidade de passar pelo Senado Federal (ou se já veio aprovado de lá), se houve divergência na apreciação pela Câmara, ou algum fato que obrigaria o projeto a mudar a tramitação e seguir outro caminho.

Sabia que qualquer pessoa consegue todas essas informações entrando no site dos órgãos públicos? Sabia que tem parlamentar que não conhece o regimento interno da Casa e suas proposições não avançam?

Nossa democracia é participativa e como cidadãos temos voz enquanto o projeto está sendo amadurecido, além de termos como acompanhar de perto o desempenho do parlamentar em que votamos.

Agir agora, porque reclamar depois não costuma adiantar muita coisa...